O desenvolvimento infantil tem muito que se lhe diga! Já todos ouvimos dizer que é importante o bebé contactar com a natureza, brincar no chão, sujar-se, rodear-se de novos estímulos, texturas e sabores.
Atualmente vivemos numa sociedade cada vez mais tecnológica e confinada a espaços restritos. Sem nos darmos conta, deixamos os nossos filhos na escola, onde a grande parte do seu tempo é passado em sala. Na correria do final de dia, entre banhos, refeições e tarefas pendentes, vamos para casa, onde as nossas crianças se encontram novamente limitadas em espaço. E até em brincadeira, porque o tempo não estica e a rotina ultrapassa essa prioridade!
O medo
Vivemos cada vez mais com o “peso” de protegermos as crianças dos perigos. Vivemos com medo que lhes aconteça alguma coisa. Temos medo que se magoem e, sem nos darmos conta, estamos a limitá-los na sua principal função, a descoberta e a brincadeira.
Todas as crianças são, de forma inata, curiosas. E é através da exploração, da brincadeira e de poderem testar limites, que é impulsionada a sua maturação física, psicológica, emocional e social. Especialmente quando em contacto com a natureza, um espaço de aprendizagem não formal e cheio de potencial.
Mas depois sim, vem o medo que caiam, partam a cabeça, vomitem ou até fiquem inconscientes. Não conseguimos lidar com medo do perigo e isso limita-nos enquanto pais.
O poder da brincadeira
É através da brincadeira que as crianças constroem as suas experiências e se relacionam com o mundo que as rodeia, onde se deparam com situações imprevistas e desafiantes. Isso tem um poder enorme porque leva-as a desenvolverem a capacidade de resolução de problemas, tornarem-se flexíveis e encontrando soluções para os desafios.
Esta aprendizagem sobre a gestão do risco, particularmente a que advém das brincadeiras que acontecem fora dos espaços confinados, permite-nos combater o flagelo das ‘crianças totós’, defendido pelo professor Carlos Neto. Isto coloca-nos a todos, pais, professores, terapeutas e toda a sociedade civil perante uma necessidade, clara, de ação.
Benefícios do contacto com a natureza
De facto, são já conhecidos e estudados inúmeros benefícios do contacto com a natureza para o desenvolvimento do bebé e da criança:
- O contacto com a natureza promove uma diminuição da produção de cortisol (hormona do stress), acalmando a criança e aumentando a sua capacidade de concentração e autocontrolo;
- Sendo a pele o maior órgão do corpo humano e toda ela constituída por terminações nervosas responsáveis pela perceção do toque, o contato com diferentes realidades como o duro e o mole, o macio e o áspero, o frio e o quente, o molhado e o seco, favorece o controlo neuromuscular e a maturação do sistema nervoso central;
- A exposição à luz solar (de forma adequada) permite a absorção de Vitamina D, tão importante para a constituição dos ossos;
- Um ambiente amplo e rico em diferentes elementos, formas e cores permite à criança um aperfeiçoamento da visão;
- Por outro lado, a audição, que se desenvolve ainda in útero, é um sentido essencial, cuja estimulação contribui para o desenvolvimento da comunicação oral e escrita;
- O que diz respeito ao paladar, fortemente interligado ao olfato, é através do contacto com a natureza que obtemos alimentos, flores;
- Fazendo uma breve referência ao sistema imunitário, a relação com a natureza (terra, plantas, animais, etc) permite o contacto com diferentes microrganismos (vírus, bactérias) possibilitando que o organismo responda através da produção de anticorpos.
Assim, o afastamento à natureza pode ter, portanto, efeitos nefastos ao nível do desenvolvimento infantil (psicológica, física e até socialmente). Embora pudéssemos continuar a enumerar os infindáveis benefícios do contacto com a natureza, é fácil compreender o quão importante é permitir que os nossos bebés e crianças explorem e conheçam o que as rodeia.
É através do contacto com a natureza, que o bebé consegue compreender o próprio ciclo da vida (nascer, crescer, amadurecer e morrer), e desenvolver o respeito pelo meio ambiente, tornando-se um adulto mais consciente e atento às questões que afetam os espaços naturais e as suas inter-relações, porque no fundo todos somos natureza.
Deste lado somos mães descomplicadas mas não deixamos de ter medo. Viver diariamente no contacto com bebés e crianças que caem, batem com a cabeça, vomitam, têm dor intensa, leva-nos a ter medo que nos nossos também aconteça. Contudo, sabemos que é maior o benefício do que o risco. E os nossos filhos precisam que lhes dêmos asas e os ensinemos a voar não é?
Pela enfermeira Tatiana Mouralinho, especialista em saúde infantil e pediatria e com a especial participação de Sara Duarte (Bióloga e Doutorada em Turismo, Serviços dos Ecossistemas e Saúde) e Vanessa Santos (Educadora de Infância)
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