A maternidade pressupõe muitas coisas boas e é fácil associar esta palavra a felicidade, alegria e amor. Mas nem sempre há tanta felicidade assim e percebemos que podemos estar perante uma depressão pós parto.
- Quantas de nós não gostaram de estar grávidas, não se sentiram bonitas durante a gravidez e após o parto?
- Quantas de nós não se apaixonaram pelo seu bebé logo no primeiro momento em que o viram?
- E quantas se sentiram, em algum momento da maternidade, aprisionadas a um bebé, sem tempo para si próprias?
- Algumas sentiram até vergonha de revelar estes sentimentos, porque “a maternidade é dos momentos mais bonitos da vida de uma pessoa”…
Por enfermeira Tatiana Mouralinho, colaboradora SOSMAMÃ e especialista em saúde infantil e pediatria
“Como é que estás assim quando tens um bebé maravilhoso? Aproveita que isto passa a correr! Vais agora pensar tomar medicamentos a amamentar?”
“Para mim, a depressão pós-parto surgiu como uma nuvem que tornou completamente cinzento o meu dia de sol. Sem perceber como, sentia-me triste, a amar de tal forma e com tamanha intensidade o meu filho que comecei a ter um medo inexplicável de, em algum momento, pode deixar de sentir aquele amor e não ter vontade de cuidar dele. E conseguir verbalizar isto? Sentia vergonha dos meus pensamentos. Aliás, o mundo à minha volta vibrava de felicidade, mas eu, eu sentia-me triste e sem saber explicar porquê, quando tinha tudo o que mais desejava na vida.”
Anónimo
Depressão pós parto: como identificar?
A depressão pós-parto é uma realidade, muitas vezes difícil de admitir, quer por vergonha, desconhecimento ou desvalorização dos sintomas (por ser um momento de mudanças e adaptações) ou pressão social. Estima-se que 10 a 15% das mulheres sofre de depressão pós parto, sendo este considerado um problema de saúde pública.
Como saber se estamos com depressão pós-parto?
Os sintomas de depressão pós parto são semelhantes aos de uma depressão. Puérperas e a sua rede de apoio devem estar atentos a sintomas como:
- Ansiedade
- Irritabilidade
- Crises de choro
- Tristeza
- Cansaço extremo
- Dores de cabeça
- Preocupações irrealistas para com o bebé
- Medo de magoar o bebé
- Desinteresse pelo bebé
- Sentimentos de incapacidade e culpabilização no papel de mãe
Será que a predisposição para a depressão pós parto é igual em todas as mulheres?
A resposta é não! A predisposição para a depressão pós parto NÃO é igual em todas as mulheres!
Atualmente sabe-se que existem condições biopsicossociais que tornam a probabilidade de desenvolvimento de depressão pós parto maior em determinadas mulheres..
Esses fatores, embora não determinantes no desenvolvimento da depressão pós parto, podem exercer maior influência e tornar a mulher mais suscetível a este quadro clínico. Tais como condições socioeconómicas desfavoráveis, falta de suporte social, abandono da vida profissional, gravidez indesejada ou problemas obstétricos, depressão anterior.
Por outro lado, a vivência de um pós-parto, em que se verifiquem dificuldades em termos da amamentação ou em que estarmos perante um bebé com um comportamento mais irritável, podem ser também fatores predisponentes ao desenvolvimento de uma depressão pós parto.
E o pai/companheiro(a)?
Embora menos falado e de diagnóstico mais difícil, pode-se também falar em diagnóstico de depressão pós parto no pai/companheiro(a) da puérpera.
Nestes casos, a suscetibilidade prende-se maioritariamente com o stress e a privação de sono, bem como pelo facto de ver a parceira numa situação de sofrimento, em que sente que o seu papel deve ser de proteção e ajuda.
Como sei se estou a vivenciar babyblues ou depressão pós parto?
Os chamados babyblues correspondem, efetivamente, a um período de depressão precoce/fragilidade emocional por parte da puérpera, verificando-se um estado emocional mais frágil e maior reatividade às situações. Devido às alterações hormonais abruptas que ocorrem imediatamente após o parto e a toda uma nova realidade, este quadro pode ser experienciado nos primeiros dias de vida do bebé. Mas não ultrapassa as 2 semanas de vida do bebé.
Por sua vez, a depressão pós parto embora com sintomas equiparados, é um quadro que poderá surgir durante o primeiro ano de vida do bebé e em que os sintomas se prolongam no tempo. Nestes casos, a procura de ajuda profissional é essencial.
Quem pode ajudar numa situação de instabilidade emocional e possível depressão pós parto?
Em primeiro lugar, é de extrema importância que a mulher reconheça e verbalize os seus sentimentos e os seus medos sem qualquer tipo de receio de ser julgada por tal.
O núcleo de apoio familiar tem também uma função importantíssima no reconhecimento destes sintomas, no apoio à mulher e na procura de ajuda, sem julgamentos.
Dando este primeiro passo, a ajuda pode e deve ser multidisciplinar.
No que à Enfermagem diz respeito, a equipa SOSMAMÃ promove um papel de destaque do enfermeiro, atuando desde o período pré-natal, no acompanhamento individualizado das necessidades de cada família, como na capacitação parental através das formações disponíveis.
Já num período pós-parto e, tendo o conhecimento de quais os principais fatores predisponentes da depressão pós parto, a intervenção de Enfermagem, e consequentemente da equipa SOSMAMÃ, ocorre ao nível do apoio domiciliário. Trabalhamos pois em parceria com cada família de forma individualizada no seu meio, na adaptação a uma nova realidade com um bebé, encontrando estratégias adaptadas a cada família.
O apoio nos cuidados ao bebé são uma pedra basilar, quer em termos de amamentação, ou outros inerentes, mas também em termos familiares, nos cuidados à mãe/família nas possíveis dificuldades encontradas e no devido encaminhamento multidisciplinar quando assim se verifica necessário.
Embora o período pós-parto pareça muitas vezes um período solitário, principalmente na vivência de uma depressão pós parto, o SOSMAMÃ está deste lado, com ajuda ou possibilidade de encaminhamento especializado.
Não estão sozinho(a)s!
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