Método ROPA: maternidade partilhada

Método ROPA: maternidade partilhada

Fev 1, 2023

Conheci as mães Raquel e Margarida e sabendo que se submeteram a uma ROPA, não hesitei em pedir-lhes o seu contributo para o blog SOSMAMÃ.

Mulheres, amigas, namoradas e confidentes, a Raquel e a Margarida são as mães do Gabriel e do Mateus. Dois gémeos provenientes de uma técnica inovadora de Fertilização in vitro.

1. Olá Raquel. Antes de mais muito obrigada por partilhar connosco a vossa situação. Quer explicar-nos melhor quem é a Raquel? 😊

Tenho 32 anos, sou licenciada em educação básica e ciências da comunicação. Em 2014 conheci a que se tornaria minha mulher, Margarida, e em 2015 emigrámos juntas. Casámos em 2018, em Portugal e em 2019 tentámos voltar para cá. 2020 deveria ter sido o ano de nos tornarmos mães, mas por voltas da vida, a Margarida teve de voltar para o Luxemburgo e apenas conseguiu voltar para mim em 2022. E foi nesse ano que cumprimos o sonho (no meu caso, de toda a vida) de ter filhos.

2. E agora sim, porque é desconhecimento de muitas pessoas, pode explicar-nos o que é o método ROPA?

ROPA, também conhecido como método de maternidade partilhada é quando uma das mães dá os óvulos e a outra mãe passa efectivamente pela gravidez, com esses óvulos inseminados. Costumo dizer, para facilitar, que uma dá a massa e a outra dá o forno :) É uma forma de fazermos ambas parte do processo.

Em Portugal, o método ROPA implica também que o casal tem iguais direitos à(s) criança(s) assim que houver uma gravidez. Não é necessário um processo de adopção de nenhuma das partes, tal como um casal heterossexual, o que é fantástico.

3. Como foi tomada esta decisão na vossa situação em particular?

No nosso caso foi muito simples. A Margarida nunca quis engravidar e eu sempre tive esse desejo.

4. Sei que têm dois lindos gémeos. Gémeos porque foi decisão vossa ou porque a própria técnica tinha este risco?

Contrariamente à ideia geral, o aconselhado seria implantar apenas um embrião de cada vez e o limite, pelo menos cá, é dois de uma vez. Implantar mais do que um apenas aumenta cerca de 5% a probabilidade de engravidar, mas engravidando, aumenta exponencialmente a probabilidade de ter gémeos. Nós queríamos muito que corresse bem à primeira e, contra conselho médico, implantámos dois. E o resultado foram dois meninos fantásticos.

5. Como foi encarada a notícia por parte da vossa família e amigos?

Nunca foi segredo que queríamos ter filhos, por isso a reação foi sempre muito feliz. Sobretudo porque a minha família sempre teve um carinho especial por gémeos :)

6. Foi-vos possível escolher o dador ou as suas características pessoais / familiares?

Fizemos o processo numa clínica privada, por isso não sei como funciona no SNS. Na clínica deram-nos hipótese de escolha entre dador anónimo ou semi-anónimo. Se fosse anónimo, poderíamos escolher as características gerais (tipo de sangue – muito importante, pois somos ambas de rhs negativo – cor de pele, cabelo e olhos). Optámos por semi-anónimo, o que nos levou a um banco de esperma dinamarquês, onde pudemos escolher o dador numa espécie de “continente online” de esperma.

Tivemos acesso a uma foto de bebé do dador, para termos ideia do que esperar, de uma gravação com a sua voz, uma carta escrita aos bebés, bem como a sua árvore genealógica, profissão, habilitações, QI emocional, entre outros. Quando tiverem 18 anos, os meus filhos poderão optar por entrar em contacto com ele. Preferimos esta vertente porque queríamos toda a informação possível.

7. Quais as principais dificuldades que sentiram?

Connosco correu sempre tudo da melhor forma, mas mesmo assim o processo é muito desgastante emocionalmente. A cada passo temos alguém a lembrar-nos que pode correr mal, que podemos não engravidar ou que podemos perder os bebés, já que é um processo “artificial” e que estamos a “enganar o corpo” para que tudo corra bem. Além disso, é um processo muito dispendioso. No geral, é muito enervante, mas faria tudo de novo sem pensar duas vezes.

Durante a gravidez, e mesmo agora com eles, é bastante frustrante ter de corrigir constantemente as pessoas. Ouvimos muitas vezes perguntarem pelo pai, quando só vêem uma de nós. No curso pré parto falavam de “a mãe faz isto e o pai faz aquilo”, entre muitos outros exemplos. Sentimos que a sociedade está a melhorar, mas ainda temos muito para andar.

8. Que medos sentiram depois do positivo? Ou nada de medos?

Depois do positivo, tivemos medo de os perder até às 12 semanas que era a meta mais preocupante. Depois disso, só quando eles estavam já a chegar e sentimos a realidade a cair em nós que a nossa vida ia mudar para sempre. Como o mais velho estava sentado, tivemos de programar cesariana e ter uma data e hora marcada causou algum stress. Só pensava “faltam 3 dias e 2 horas para a minha vida virar de pernas para o ar!“.

Tínhamos também medo de não ser boas mães e de não conseguirmos lidar com eles da forma que gostaríamos.

Quando os vi, esses medos evaporaram (ou pelo menos parte deles). A vida mudou, sim, mas não os trocava por nada deste mundo e estamos a fazer o melhor que podemos e sabemos por eles. Que é tudo o que podemos fazer. :)

9. Hoje em dia, para outras mulheres que desejam muito ser mães, qual o maior conselho que pode dar?

Não desistam e tenham muita paciência, para vocês mesmas e para o mundo. Informem-se sobre tudo o que podem ter acesso para concretizar esse sonho. Não se sintam culpadas se tiverem de recorrer a outros métodos, como a doação de óvulos. Os meus filhos não são geneticamente meus, mas sinto que seria impossível amá-los mais, mesmo que o fossem. Acima de tudo, rodeiem-se de pessoas que vos apoiem da forma que precisam de ser apoiadas e tentem manter a esperança, mesmo que por vezes seja difícil. Prometo que o resultado vale a pena.

OBRIGADA OBRIGADA OBRIGADA, que dia bonito este 😊

1 Comment

  1. Claudia Amaral

    Que bonito testemunho! Viva o amor no seu estado mais puro!! E felicidades aos 4 ❤️

    Reply

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