Viver a prematuridade

A prematuridade é muito para além de cuidar de um bebé pequenino e que nasceu antes do tempo, como tantos conhecem. O bebé prematuro não é uma miniatura de um bebé de termo!

“Ser mãe de um bebé prematuro é ser mãe de um bebé guerreiro! A minha experiência, mesmo com todos os medos que a situação implicava foi a mais enriquecedora dado que o Francisco nunca regrediu, teve sempre uma evolução mais que favorável. Não vou negar que era duro todos os dias sair do hospital sem ele. Uma jornada de 69 dias entre dois hospitais onde, em ambos, fomos tratados de uma forma incrível! No pior período da nossa história «pandemia», o regresso a casa foi tranquilo, sem complicações. Não sei como as coisas se processam em circunstâncias «normais» mas acho que todas as mães deveriam ter direito a um apoio de enfermagem especializado no regresso a casa pois há muitas dúvidas, muitos medos e essencialmente muitas inseguranças que poderiam ser descomplicadas.

Finalizo com a certeza de que os nossos prematuros são O exemplo de Força, Coragem e Resiliência.”

❤️L.S., mãe do Francisco, nascido às 29 semanas e 3 dias de gestação

Peso de nascimento: 800 gramas.

Comprimento: 37.5cm

Do que falamos quando falamos em prematuridade?

O termo prematuridade é tão vasto e tão comum nos dias de hoje! Anualmente, nascem, em todo o mundo, cerca de 15 milhões de prematuros, o que representa 1 em cada 10 nascimentos.

De forma genérica, a prematuridade refere-se ao nascimento de um bebé antes das 37 semanas de gestação, considerando que quanto menor a idade gestacional (semanas de gravidez) maior é o grau de prematuridade, maior é a probabilidade do bebé sofrer de complicações e menor é a probabilidade de sobrevivência. Atualmente, e muito derivado da tecnologia disponível, considera-se o limiar de viabilidade de um prematuro a partir das 23/24 semanas de gestação.

Mas quando falamos em prematuridade não podemos falar apenas em bebés. Inevitavelmente temos de falar de pais, famílias, sentimentos, expectativas não correspondidas, aprendizagens, profissionais de saúde e acompanhamento especializado.

Poderei ser uma pessoa mais predisposta a ter um parto prematuro?

Cada grávida é uma grávida e cada bebé é um bebé. A ocorrência de um parto prematuro, pode acontecer sem que se consiga identificar um fator que o possa ter provocado. A grávida poderá entrar em trabalho de parto ou ter rutura da bolsa de forma espontânea e antes do previsto.

No entanto, sabe-se que existem inúmeros fatores que podem contribuir para este facto: gravidez de gémeos, história de parto prematuro anterior, stress materno, comportamentos nocivos como consumo de álcool, tabaco ou drogas, diabetes, obesidade, tensão arterial elevada, idade materna, entre tantos outros.

E é aqui que entra a GRANDE importância da vigilância de saúde antes da gravidez, durante a gravidez (da grávida e do bebé), procurando vivê-la da forma mais tranquila possível, com recurso a equipas de saúde especializadas.

Um bebé prematuro não é a miniatura de um bebé de termo!

Quando falamos de bebés prematuros, não podemos ter a crença de que estamos a falar de um bebé em miniatura.

A prematuridade, de acordo com o seu grau, acarreta consigo, a imaturidade dos órgãos e sistemas do bebé, tornando-o mais vulnerável a diferentes complicações de saúde, sendo também mais sensível a fatores externos, como a luz, o ruído, etc. 

Também as características de um bebé prematuro diferem dos restantes, verificando-se na maioria das vezes, baixo peso, pele fina com veias visíveis, aspeto emagrecido, com fraqueza muscular e poucos reflexos e uma cabeça desproporcionalmente maior que o resto do corpo.

Habitualmente, e pelas suas características e imaturidade, podemos afirmar que existem 3 funções corporais que são as mais comumente afetadas: temperatura corporal, respiração e alimentação.

A partir daqui conseguimos compreender que a grande maioria destes bebés, e dependendo do grau de prematuridade, irá necessitar de internamento numa unidade de neonatologia, ficando numa incubadora aquecida (para controlo da temperatura corporal), algumas das vezes adaptados a um ventilador (para ajudar na função respiratória) e com soro numa veia, ou alimentação, eventualmente através de uma sonda (para colmatar a função da alimentação).

Mas existe uma característica muito especifica destes bebés: A SUA VONTADE DE VIVER! Essa é a verdade! Apesar das tantas pedras no caminho, são verdadeiros guerreiros e exemplos de força e esperança, em que cada dia e cada conquista é uma grande vitória.

E quando falamos de bebés prematuros, não é legítimo falar em pais prematuros?

Pais prematuros, pois é! Quando nasce um bebé, também nascem um pai e uma mãe, uma avó, um avô, etc.

A gravidez é um caminho, para o qual estamos mentalmente formatados que durará em média 40 semanas, ao longo do qual vamos construindo a imagem do nosso bebé (o bebé idealizado), mas que, e principalmente em situações de prematuridade, não corresponde ao bebé real.

E aqui, é fundamental falar, sem medos de julgamentos e vergonhas. Esta é a parte pouco falada e onde estes pais têm de sentir que existem recursos, pessoas, profissionais ao seu alcance para ajudar nesta caminhada! Porque têm de viver um processo de luto! Um processo de luto do bebé idealizado.

E sim, vão surgir sentimentos de choque, tristeza, zanga, descrença, culpabilização, medo, preocupação e até solidão. Mas NÃO ESTÃO SOZINHOS! NÓS ESTAMOS DESTE LADO!

Então como lidar com este processo?

  • Não reprimam os vossos sentimentos, emoções, medos, preocupações;
  • Partilhem-nos em casal e acima de tudo com os profissionais de saúde que estão do vosso lado;
  • Namorem com o vosso bebé, façam contacto pele a pele, cheirem-no e deixem que ele vos cheire, vos sinta, oiça o vosso coração. Transmitam-lhe amor e segurança. Este será um processo fundamental para o bebé e também para os pais, para a produção de leite materno, vinculação;
  • Contruam um diário, onde possam registar, cada luta, cada preocupação, cada conquista, cada sorriso. Celebrem o dom da vida e cada conquista;
  • Preparem calmamente o regresso a casa, no que diz respeito a rotinas, visitas, apoio domiciliário se sentirem essa necessidade.

E nunca se esqueçam: não estão sozinhos! NÓS ESTAMOS AQUI POR E PARA VOCÊS!

Da autoria de Tatiana Mouralinho, enfermeira de saúde infantil e pediatria, colaboradora SOSMAMÂ nas formações e apoio ao domicílio

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