Cuidados a ter com bebés e crianças no verão: queimadura e desidratação

Quando falo em cuidados com bebés e crianças no verão, penso sempre em dois tópicos fundamentais: primeiro, a queimadura (para a qual a maioria dos pais está desperto e é cuidadoso) e depois a desidratação (que, infelizmente, é desconhecimento para muitos, mas que está na origem de muitas recorrências às urgências hospitalares, no verão).

Sabiam que a desidratação num bebé pequeno facilmente acontece se o ambiente for abafado e a reposição de líquidos inferior ao necessário? Mesmo que o bebé esteja à sombra…

Sabiam que, enquanto um adulto tolera perfeitamente bem 7 ou 8 vómitos, um bebé com 1 ou 2 vómitos pode ficar desidratado? Facilmente acontece no Verão, se certos cuidados alimentares não forem tidos em conta…

É então imprescindível trazer informação / conhecimento aos pais. Explicar o porquê de certos cuidados com os pequenos. Não basta dizer “entre as 11h e as 17h não devem estar ao sol com o vosso filho” ou “o protetor solar que devem aplicar é um protetor mineral fator 50+”. Acima de tudo que entendam o porquê destas recomendações!

Vamos a isso?

A queimadura

A pele do bebé é mais fina e imatura do que a pele dos adultos. Percebe-se então que seja uma pele mais frágil.

O risco de queimadura solar em bebés está aumentado e está relacionado com taxas mais elevadas de desidratação, já que pela queimadura e com a transpiração o bebé vai perder líquidos corporais que lhe são necessários.

Nesse sentido, é fundamental termos cuidados específicos. Nomeadamente:

  • Uso de protetor solar mineral fator 50+ até aos 2 anos de idade (sem esquecer orelhas e pés): é um protetor que cria uma barreira cutânea e impede a absorção, refletetindo o raio solar;
  • Reposição de protetor solar a cada 2h;
  • Evicção da exposição solar direta de bebés até aos 6 meses de idade, por maior fragilidade cutânea e risco aumentado de queimadura;

Não esquecer que, mesmo em baixo do chapéu ou em tenda o risco mantém-se, a não ser que seja chapéu / tenda com proteção UVA/UVB

  • Se exposto ao sol, o bebé/criança acima dos 6 meses, deve fazê-lo nos horários de menor calor: das 7/8h até às 10h/11h e a partir das 17h;
  • Nos horários de maior calor (11-17h) bebés e crianças pequenas devem estar em locais frescos e arejados, sem exposição solar direta;
  • Bebés e crianças pequenas devem ainda usar chapéu de sol com abas largas ou pala, óculos de sol adequados (se tolerarem), roupa clara e fresca.

E se houver queimadura?

Vermelho e quente local = queimadura de 1º grau
  • Aplicar frio local: água corrente;
  • Aplicar pomada regeneradora: biafine ou bepantene;
  • Reforçar hidratação;
  • Ponderar analgésico, se tiver dor: paracetamol (ben-u-ron);
  • Consultar especialista (sobretudo se queimadura em bebé « 1 ano de idade).
Bolhas (flictenas) = queimadura de 2º grau
  • Aplicar frio local: água corrente;
  • Consultar especialista para observação (sempre);
  • Não rebentar as bolhas (flictenas)!
  • Reforçar hidratação;
  • Ponderar analgésico, se bebé/criança manifestar dor.

A desidratação

De acordo com a Unicef, a desidratação é uma dos 5 principais causas de morte em crianças abaixo dos 2 anos em todo o mundo.

O risco de desidratação em bebés e crianças pequenas prende-se com 2 principais fatores:

  • Perda de calor corporal pelo aumento da temperatura corporal e pela transpiração (ausência de transpiração não significa menor risco de desidratação);
  • Risco de ingestão de alimentos estragados (por ação do calor e da proliferação bacteriana) com consequentes vómitos e provável diarreia;

Como prevenir a desidratação? Que cuidados?

É imprescindível bebés até aos 6 meses se manterem em locais frescos e arejados, sem correntes de ar e evitar a exposição solar direta (ou um simples passeio com os pais nos horários de maior calor). Isso não significa que não possam passear, sair à rua; podem, em segurança e nas horas de menor calor (expostas acima);

  • Bebés a leite materno devem, em dias de maior calor, mamar com mais frequência;
  • Bebés a leite artificial exclusivo devem aumentar também a frequência das mamadas, mesmo que reduzam as quantidades oferecidas de cada vez;
  • Gelados de leite materno ou artificial são uma excelente opção nestes dias quentes de verão;

A partir dos 6 meses de idade, a exposição solar direta já é menos arriscada, em horários adequados (expostos acima), evitando igualmente as horas de maior calor. Atender ao RISCO AUMENTADO DE DESIDRATAÇÃO quando mantemos bebés e crianças pequenas em baixo de chapéus ou tendas nas horas de maior calor (o aumento da sua temperatura corporal contribui para a perda de líquidos corporais e maior risco de desidratação). O MELHOR SÍTIO PARA MANTER BEBÉS E CRIANÇAS PEQUENAS NAS HORAS DE CALOR É EM ESPAÇOS FRESCOS E AREJADOS.

  • Em dias de maior calor, deve oferecer-se água com mais regularidade a todos os bebés que já iniciaram diversificação alimentar;
  • Em dias de maior calor, os alimentos a oferecer devem ser frescos e menos arriscados no que concerne à proliferação bacteriana (privilegiar alimentos que têm menor risco de se estragar).

Devem estar atentos se durante ou depois de um dia de verão (tipicamente dias quentes), o vosso filho apresenta:

  • olheiras marcadas / olhos fundos;
  • lábios e/ou língua seca;
  • choro sem lágrima;
  • diminuição da produção de urina e/ou cheiro intenso da urina;
  • vómitos;
  • sonolência aumentada.

Por último, deixo-vos alguns artigos que ajudam a complementar e a enriquecer este tema:

“Planear férias com bebés e crianças: 5 dicas essenciais”

“O que não pode faltar na mala do bebé quando saímos de casa? 10 ítens a não esquecer”

“Prevenir a desidratação em pediatria: sinais de alarme”

 

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