Vamos desmistificar a diversificação alimentar: abordagem tradicional, Baby-led weaning ou mista?

A diversificação alimentar/introdução alimentar diz respeito à fase em que o bebé passa a consumir outros alimentos que não somente o leite materno ou artificial. A OMA (Organização Mundial de Saúde) defende a amamentação exclusiva até aos 6 meses de idade, pois o leite materno consegue garantir o aporte nutricional necessário ao bebé até aos seus 6 meses de vida, para além de todas as vantagens que estão inerentes ao aleitamento materno.

Contudo, não são todas as famílias que conseguem garantir aleitamento materno em exclusivo ao bebé até aos seus 6 meses de vida, seja por decisão pessoal, por razões de saúde ou mesmo pelo regresso ao trabalho (que para muitas famílias é razão para antecipar a introdução alimentar).

A DGS (Direção geral de saúde) e a ESPGHAN (Sociedade europeia de nutrição pediátrica) deixam claro que a alimentação complementar pode ser iniciada aos 4, aos 5 ou aos 6 meses de vida, conforme temos vindo a verificar em vários bebés. Sabemos pois que, antes dos 4 meses a imaturidade intestinal e as características do desenvolvimento do bebé não tornam segura a introdução da alimentação complementar, assim como após os 6 meses e 1 semana, as necessidades nutricionais do bebé não conseguem ser suprimidas pelo leite materno em exclusivo.

3 abordagens: o mesmo objetivo

Em primeiro lugar relembro que não existe a abordagem perfeita! Nem podemos assumir que uma é melhor do que outra. Já vos tinha dito que cada bebé é um bebé, cada família é uma família e, portanto, o tipo de abordagem terá sempre de ter em consideração as características individuais do bebé e da sua família.

Segurança e tranquilidade são a chave para o sucesso. E estas só poderão existir se os pais estiverem informados para que consigam tomar decisões conscientes. É aqui que eu entro, com todo o gosto e vos posso ajudar, não somente desta forma (mais generalista) mas individualmente (recentemente faço sessões individualizadas através da plataforma bean – acedam pelo link) 😘

A abordagem tradicional…

À primeira vista a abordagem tradicional é a comumente trabalhada com as famílias, que optam por iniciar a diversificação alimentar pelo creme de legumes ou pela papa de cereais. É a que os profissionais de saúde (a maioria) domina, é a que os avós sentem ter capacidade para colocar em prática junto dos seus netos e é também aquela que muitos pais sentem segurança quando se fala em necessidades nutricionais do bebé. Além disso, é a abordagem trabalhada pela maioria dos educadores de infância, amas e babysitters.

A DGS, em documento datado de 2019, recomenda a abordagem tradicional e, eventualmente, a abordagem mista, pelo risco nutricional da abordagem em BLW por si só. Isto, claro, se esta última abordagem não for devidamente orientada (por profissionais especializados) nos alimentos a oferecer ao bebé. Porque sendo, mostra garantias de sucesso e um gosto especial das crianças pelo momento da refeição.

Tudo vai depender da dieta familiar está claro! É preciso muita organização na criação das ementas, para que não se verifiquem carências nutricionais. Uma vez mais, o exemplo está nos pais!

Já vos disse que sou a fã nº 1 das ementas semanais? (Quem já fez download do exemplo de ementa que vos deixei na área de formação do blog SOSMAMÃ?😛)

O Baby-led weaning (BLW)…

Há atualmente cada vez mais adeptos do BLW, uma abordagem que ganhou fama em Inglaterra e que tem cada vez mais sucesso noutros países, incluindo Portugal.

Baby-led weaning pressupõe dar autonomia ao bebé para que decida o que e quanto comer. Mas claro que quem coloca os alimentos à sua frente é o cuidador/cuidadores, como vos disse, os exemplos para o bebé. São os pais que têm de dar o exemplo numa alimentação diversificada e saudável. Até porque BLW pressupõe, igualmente, o bebé alimentar-se com a família, da refeição da família, sem a utilização de colher. Atendendo aos alimentos “proibidos” e comuns em todas as abordagens (até, pelo menos aos 12 meses de idade, mas idealmente até aos 24 meses): sal, açúcar, mel.

Esta é uma abordagem muito específica e que tem gerado algumas controvérsias dentro dos especialistas de alimentação infantil. Se bem orientada e se mantida uma alimentação saudável e equilibrada na família, não tem porque ser problemático selecionar o BLW como abordagem de introdução alimentar no bebé. Pelo contrário, cada vez mais nos apercebemos de bebés felizes à mesa, por experienciarem sensações através dos alimentos que lhes transmitem gosto pela refeição.

Desde já vos digo que tenho uma excelente notícia para vocês: cada vez mais pais optam por uma abordagem mista na oferta de alimentos ao bebé, encontrando assim a chave para se sentirem mais tranquilos ao fim de um dia de trabalho 😍

A abordagem mista…

Numa família que opta pela abordagem tradicional, chega também o momento em que é preciso oferecer alimentos cada vez menos cremosos ao bebé. Afinal de contas ele não vai sempre comer tudo passado 🤔 Passam a confecionar os alimentos numa textura mais pastosa, até que o profissional de saúde que segue o bebé recomenda que lhe seja oferecido pão, bolacha, arroz, massa; por volta do 9º-10º mês, insiste que o 2º prato deve ser dado ao bebé após a sopa. E aí muitos pais têm dificuldade na introdução dos sólidos.

É a abordagem mista que pode aqui beneficiar muitas famílias. Tranquilizando-se que ofereceram os nutrientes necessários ao bebé através da sopa e dando tempo ao bebé para que explore os alimentos com a mão. Dão muitas vezes a sopa antes e depois o bebé partilha da refeição da família, ao mesmo tempo desta última.

Ou seja, muitas vezes as famílias acham que estão a abordar a diversificação alimentar dos seus filhos em BLW mas não, dado que esta última não pressupõe a oferta de alimentos ao bebé à colher. Aquilo que a maioria dos casais já vai praticando é a abordagem mista, oferecendo sopa/papa/iogurtes à colher, mas dando a oportunidade aos seus filhos de explorar os alimentos e conhecer o novo mundo alimentar com as mãos, o conhecido finger-food.

É muito bonito decidirmos baby-led weaning mas também sabemos perfeitamente que a maioria das creches e amas não se sente preparado para esta abordagem. Não detém conhecimento e experiência na área para se sentirem seguras a cumprir o solicitado pelos pais. Que devíamos ir ao encontro das necessidades de cada bebé ao invés de definirmos rotinas iguais para todos os bebés? Claro que devíamos! Esse era o mundo perfeito!

Contudo, não sendo possível na nossa realidade, pelo menos na maioria dos estabelecimentos, porque não investir numa abordagem mista? É aquilo que digo aos pais sempre que nos encontramos, seja nas sessões individuais seja nos workshops SOSMAMÃ “desengasgamento em bebés”: esta pode ser a abordagem a colocarem em prática nas refeições em família e, na creche, ser mantida a oferta dos alimentos à colher. Claro que cada caso é um caso, mas tem sido muito o sucesso na abordagem mista.

Podemos optar por qualquer uma das abordagens?

Qualquer uma das escolhas num bebé de termo saudável pode ser feita, desde que tenhamos todos em consideração que é preciso muito cuidado nos alimentos que são oferecidos ao bebé, de forma a garantir o aporte nutricional adequado. A qualidade de vida de um bebé depende em muito da sua alimentação nos primeiros 2 anos de vida. Esse é o grande motivo pelo qual DEVEMOS ter trabalho com a alimentação dos nossos filhos (como vos referi no artigo «introdução alimentar: como decidir a melhor abordagem?»).

Da mesma forma temos de considerar que a oferta de uma ampla variedade de alimentos ao bebé até aos seus 12 meses, vai interferir na aceitação dos alimentos daí em diante. Além disso, acrescento-vos que, na escolha, devem ser consideradas várias questões pela equipa «pais-profissional de saúde» (somos uma verdadeira equipa 😍).

O nosso bebé está preparado?

Estará o nosso bebé preparado para a introdução alimentar quando nós pais achamos ser o momento certo? E nós como pais, estamos preparados?

Que características da nossa família devem ser consideradas?

Pode parecer a parte mais fácil mas eu diria que chega mesmo a ser a mais difícil. Isto porque precisamos de pensar em vários aspetos, nomeadamente:

  • Quem vai dar as refeições ao bebé?
  • Todos os elementos da família estão familiarizados com a escolha dos pais?
  • Todos os elementos da família que dão alimentos ao bebé conseguem garantir segurança na oferta alimentar ao bebé e sabem como atuar em caso de engasgamento?
  • A creche que escolhemos para o nosso filho aceita a abordagem decidida pelos pais, se essa é BLW ou mista? A ama onde vai ficar os 5 dias da semana sente-se capaz de levar em frente esta abordagem?

Como planear o regresso ao trabalho e o tempo da licença parental?

Claro que é possível manter amamentação exclusiva mesmo retomando a vida laboral. Todos sabemos (ou devíamos saber) que a legislação garante o 1º ano de vida do bebé com redução de 2h no horário, mas também sabemos que muitos pais trabalham por conta própria ou que as condições laborais não são aquilo que a legislação prevê e acabam por estar ausentes de casa durante longos períodos de tempo 😠 O mundo está muito ao lado do que todos desejamos 😢

Muitos casais optam por iniciar a diversificação alimentar próximo do regresso ao trabalho da mãe, de forma a sentirem-se mais seguros e confiantes para o novo passo. É aqui que precisamos de pensar se estamos a agir adequadamente ou se, nalguns casos, podemos esperar mais um pouco e agir conforme a necessidade e o caminho de cada bebé.

O que será certo? Planearmos antecipadamente, observarmos e conhecermos o nosso bebé! Procurar o apoio profissional certo no momento certo.

Estamos devidamente informados sobre as diferentes abordagens de diversificação alimentar?

Essa é a pergunta-chave. É mesmo aquela que dita o caminho. Só com informação é que podemos decidir com consciência. Claro que, depois de sabermos o suficiente sobre cada uma das abordagens, podemos optar por uma em detrimento de outra e perceber que isso corre ou não corre bem com o nosso filho em particular. E podemos também ver-nos confrontados com a necessidade de mudar todo o plano definido inicialmente.

E por aí, como estão a planear esta fase da vida dos vossos filhos? Quem já começou, que abordagem selecionou? Como tem corrido?

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4 Comments

  1. Paula Brás

    Fiz o workshop de “Desengasgamento em bebés” pouco depois da minha filha fazer 6 meses, pois senti necessidade de ter orientação ao nível da oferta de alimentos ao bebé! Quando acabou o workshop senti-me revigorada e com uma enorme vontade de pör as aprendizagens em prática! A minha filha tem 11 meses e as horas da refeição são horas felizes e é com enorme satisfação que vejo a minha filha comer com gosto! Como mãe e educadora de infância, falei na creche onde a minha filha está do workshop que fiz com a Andreia e que me proporcionou ter mais confiança no que respeita à alimentação da minha filha! Falei de como as horas da refeição são muito mais felizes e que gostaria que a minha filha comesse o segundo prato na creche, uma vez que já o faz há algum tempo em casa! Como sei que as pessoas que cuidam dela não se sentem tão à vontade em oferecer comida sólida na sala dos bebés, propus que fizessem o workshop, pois só têm a ganhar (elas e acima de tudo as crianças)!
    A direção da instituição mostrou-se bastante recetiva e desta forma vamos poder proporcionar aos bebés horas da refeição ainda mais felizes 🙂
    Muito obrigada por todo o amor que coloca no que faz Andreia!

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    • Enf Andreia

      Querida Paula que testemunho bom.
      Muito obrigada pela sua partilha tão enriquecedora.
      Aqui estarei para apoiar no que me for possível 🙂

      Um grande beijinho,
      Andreia

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  2. Claudia Granjo

    Olá boa tarde.
    o meu filho tem 5 meses e neio e tem mostrado que está preparado para começar a comer.
    quero fazer a introdução por BLW mas o medo é a minha naior barreira.
    dei lhe fruta esmagada, ponho na colher e diu lhe a colher oara a mão e é ele que gere.
    procuro um workshop onde possa falar, expor as minhas duvidas e ondw me expliquem bem que alimentos devo iniciar, com que tamanho, com que dureza e que também expliquem a manobra para casi algo corra mal.
    podem ajudar me?

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    • Enf Andreia

      Olá Claudia 🙂
      Grata pela sua abordagem! Parece.me que primeiro os papás precisam de se preparar e de perder o medo! O workshop “desengasgamento em bebés” ajuda muito nesse aspeto, onde muito mais do que falar de técnicas de desengasgamento, falamos na segurança na oferta de alimentos, considerando todos os tipos de abordagem. Contudo, informo-a que dou também apoio a papás, personalizado, consoante o bebé e a família. Envie e-mail para mailsosmama@gmail.com e podemos ver as melhores datas para si 🙂
      Um beijinho,
      Andreia

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