A resposta: DEPENDE:
- Da idade do vosso filho (bebés com idade « 3 meses devem ser observados por médico no 1º dia de febre);
- Dos antecedentes pessoais do vosso filho (existem patologias nas quais o bebé/criança ao primeiro pico febril deve ser observado por médico, como é o caso das crianças com problemas renais);
- Do estado geral do vosso filho;
- De uma coisa essencial no meio de tudo: o instinto de mãe e de pai e o seu conhecimento relativamente ao estado “normal” do seu filho.
A típica frase ouvida por qualquer mãe quando o seu filho tem febre: “Espere 3 dias e, se não passar, vá ao médico”. A frase que irrita qualquer mãe ou pai 🤨 Continuo a acreditar que somos nós, profissionais de saúde, que temos o papel fundamental de explicar os motivos dos aconselhamentos que damos aos pais: se estou a aconselhar a mãe a levar o filho ao hospital unicamente após 3 dias de febre, também é meu papel explicar-lhe o porquê!
A origem da febre…
A explicação dos 3 dias está realmente na origem da febre: será de origem viral ou bacteriana?
Na realidade, uma infeção viral diz respeito a uma infeção causada por vírus, cujo tratamento assenta no controlo de sintomas. Isso mesmo! Controla-se a febre, o ranho e/ou a tosse, os vómitos, a diarreia, a dor (independentemente do local), entre outros. No máximo damos antipiréticos, analgésicos, anti-inflamatórios, antieméticos, anti-histamínicos. Não damos antibióticos.
E sim, é verdade que uma infeção viral pode prolongar-se por 5 a 7 dias.
São 5 a 7 dias em que o nosso filho tem febre, passamos noites más, ele come menos bem (naturalmente) mas ao fim desse tempo máximo, a febre cede e a infeção passa.
Por outro lado, se a origem da febre é bacteriana, temos uma infeção causada por bactérias, cujo tratamento carece de antibiótico, para além do controlo de sintomas.
São várias as vezes que os pais ficam chateados ou não compreendem porque motivo o médico não pediu análises ou raio-X…
Primeiramente compreendamos que o profissional de saúde avalia o bebé/criança com uma abordagem profissional, cuja experiência lhe permite muitas vezes fazê-lo em poucos minutos;
Além disso, é mediante essa avaliação e a história dos sintomas em si, que é decidido um tratamento. A decisão de realizar análises ou outros exames complementares vai muito além do expectável pelos pais. Têm de ser tidas em conta todas as desvantagens e riscos destes exames: a exposição do bebé/criança à dor, a material radioativo, entre outros. Para não falar que, muitas vezes, quando feitos antecipadamente, podem não diagnosticar eficazmente um problema.
É como o teste de gravidez: se realizado precocemente pode dar um falso negativo certo? Pois bem! De que vale realizar análises e exames ao 2º dia de doença num bebé/criança que até nem tinha praticamente outros sintomas ou toda a clínica não justificava exames precoces? É claro que existem exceções. Existem casos em que são necessários outros exames no 1º ou no 2º dia de febre. Mas lá está, porque cada bebé/criança é único, podem existir outros antecedentes ou, de facto, surgirem sinais de alarme que motivam a observação urgente por profissional de saúde:
Então como saber se o meu filho tem uma infeção viral ou bacteriana?
Esperando. Controlando sintomas e vigiando o bebé/criança. A febre não é necessariamente algo negativo, como já vos tinha explicado no artigo «febre: sinais de alarme». É importante, sim, observarmos o nosso filho e avaliarmos a possível presença de sinais de alarme que nos façam contactar a saúde 24 ou ir a uma urgência hospitalar:
- Como está o estado geral do bebé/criança quando está sem febre? (não se espera que um bebé/criança com febre deseje comer, brincar, beber ou esteja bem disposto. Mas quando está sem febre é mais preocupante manter-se desinteressado pelos seus brinquedos favoritos ou com total ausência de apetite);
- Brinca? Tem vontade de brincar?
- Come? Tem apetite? Recusa a alimentação na totalidade? Ou é seletivo?
- Não come mas bebe líquidos?
- Tem dificuldade respiratória?
- Vomita?
- Tem diarreia?
- Urina? Ou urina em menor quantidade?
- Está mais irritado, inconsolável mesmo no miminho de um dos papás?
- Está demasiado sonolento (fora do horário das sestas)?
- Tem dificuldade no andar (se já anda) ou dor nas pernas?
Mas ficar em casa a aguardar os 3 a 5 dias não é preocupante nesta altura de pandemia?
A questão deve ser colocada de outra maneira: O bebé/criança esteve com alguém suspeito ou confirmado de Covid19? Em caso afirmativo devem contactar a linha S24 e agir conforme indicação profissional.
As crianças com Covid-19 podem não ter qualquer sintoma ou ter sintomas ligeiros semelhantes a uma gripe: febre, tosse e/ou dificuldade respiratória. Por outro lado, existem casos confirmados de crianças com dor generalizada, diarreia e/ou dor de garganta. Como se vê, são vários os possíveis sintomas sugestivos de Covid-19 em pediatria. E não vamos todos a correr para o hospital certo?
Em suma, crianças com sintomas respiratórios ligeiros e/ou febre com menos de 3 dias, podem ser controladas em domicílio, com as devidas precauções e isolamento. A não ser que se instale algum ou mais dos sinais de alarme que vos refiro no artigo «febre: sinais de alarme».
O que acharam deste artigo? Faz-vos sentido? Tranquiliza-vos?
Parabens !!!
sensata e objetiva
Obrigada minha querida! Um grande beijinho