Um certo dia, ouvi e não me esqueci das palavras de um formador que passou pela minha vida: “uma criança não é um adulto em miniatura, isso é um anão! As crianças são crianças e devem ser tratadas como tal.” É hora de deixarmos de lado a ideia de termos filhos perfeitos porque a perfeição só existe em contos de fadas. Desta forma, pais e crianças aprenderão muito mais facilmente a lidar com a frustração.
Deixemos as crianças serem crianças!
Vejo vulgarmente, em âmbito profissional e não só, serem exigidos comportamentos e atitudes às crianças que são impróprias para o seu estadio de desenvolvimento: a obrigatoriedade das crianças manterem sempre bom comportamento, de comerem sempre bem, de saberem tomar banho sozinhas aos 2 anos, de lerem e escreverem aos 5 anos… Queremos tanto a perfeição que acabamos por “cortar-lhes as pernas”!
Quando digo isto refiro-me à importância de deixarmos os nossos filhos serem crianças! É PRECISO deixá-los mexer, correr, saltar, pular, cair, magoarem-se, sujarem-se e tantas outras coisas normais a uma infância feliz.
Eduardo Sá, um psicólogo, psicanalista, escritor e professor que muito admiro disse, em tempos, que as crianças têm hoje, os melhores pais que já existiram. São abençoados por terem mais colo, mais mãe e mais pai. Contudo, acrescenta, é em Portugal que estão as crianças menos interessadas nas tarefas da casa. Culpa dos pais que incutem em demasia que somente a escola tem relevância. Acaba por tudo o resto perder o interesse: o tempo com a família, o tempo com os amigos, as brincadeiras próprias da idade e a ajuda aos pais nas tarefas domésticas.
A educação
Ninguém disse que educar era fácil. A educação é imprescindível desde cedo. Claro que temos de chamar à razão, de reprimir, de dizer “não”. Não podemos permitir que uma criança bata na mãe ou no pai ou que seja mal-educada!
Sinto diariamente com o meu filho, que o processo de educar tem muito que se lhe diga. E ele só tem 8 meses! Saber quando e como dizer «não», saber quando e como reprimir não é fácil estando do lado “de cá”. Por mais que tentemos, todos nós, fazer o melhor a cada dia.
Antes de ser mãe, já vos tinha dito que pensava de outra maneira 🙂 E tenho uma amiga e colega de profissão que me disse sempre isso: “Andreia, quando fores mãe, vais ver que não é assim tão simples”. Eu que dizia várias vezes “se fosse meu filho (…)”, agora penso duas vezes antes de o dizer! Costumo comentar com o meu marido “não sabemos o que o nosso filho vai ser. Só desejo que não siga maus caminhos, porque tudo o resto que ele escolha, desde que seja informado dos riscos das suas escolhas, será livre para seguir o seu caminho”.
O mesmo se passa no dia-a-dia: o João Maria tem, como todos os bebés e crianças de andar no chão, tem de sujar as mãos, a roupa, a cara; tem de apanhar bichos com as mãos, tem de mexer na cadela, tem de explorar o mundo! Mas claro: eu, como mãe, tenho de estar lá para o ajudar a levantar-se! Para lhe dizer que “alí não se mexe” ou que “isso é perigoso”.
Será que há uma idade para começar a dizer “Não” e para ensinarmos aos nossos filhos o certo e o errado?
A DGS sugere que, aos 9 meses do bebé, os pais/cuidadores sejam firmes na palavra “não”, iniciando aqui a imposição de regras e limites e procurando não ceder à chantagem do bebé e, mais tarde, da criança.
Se vamos errar? Claro que vamos! Todos erramos, afinal de contas somos humanos!
No artigo «Vinculação pai-bebé: 4 concelhos que ajudarão mães e pais» já vos tinha dito uma das minhas maiores preocupações enquanto mãe: “Se eu deixar de existir, como vai ser? Quero que o meu filho fique bem!”. Temos de ser capazes de, a seu tempo, ajudarmos os nossos filhos a ganhar autonomia e a aprender a “voar” sozinhos. E isso só será possível se os deixarmos explorar ao seu redor. Claramente que não vamos exigir-lhes tarefas que não são de todo propícias à fase de desenvolvimento em que se encontram, mas há pequenas coisas que podemos e devemos, sem dúvida, incutir-lhes.
É imperativo dizer-vos que, para ensinarmos os nossos filhos é necessário que nos deixemos de machismos. Estamos em pleno século XXI, onde as mulheres trabalham tanto ou mais que os homens. Portanto, é essencial existir divisão de tarefas domésticas. Só assim, pelo exemplo dos pais, as crianças podem perceber o certo e o errado.
Que tarefas podemos incutir nos nossos filhos e em que idades?
A DGS indica que é a partir dos 12 meses que é fundamental começar a ser incutida a realização de determinadas TAREFAS SIMPLES, como por exemplo colocar a sua roupa dentro do cesto da roupa suja ou a fralda no lixo. No final: ELOGIAR, ELOGIAR, ELOGIAR.
Aos 18 meses, a criança habitualmente começa a imitar as tarefas domésticas que vê a mãe e o pai fazer (pede a vassoura para varrer o chão ou demonstra interesse em alimentar o animal de estimação). É aqui que devemos DAR O EXEMPLO de companheirismo e partilha das tarefas entre o casal e:
- Ensinar a importância da organização: arrumar os seus brinquedos;
- NUNCA esquecer o elogio.
Aos 2 anos, ressalvam que devemos, enquanto pais/cuidadores pedir ajuda em pequenas tarefas diárias (exemplos: colocar a roupa suja na máquina de lavar; ajudar a pôr a mesa, ajudar a levantar a mesa, dar comida e água ao cão, entre outras).
Aos 3 anos, destaca-se a importância da criança aprender a partilhar os seus brionquedos.
Aos 4 anos: pôr a criança a fazer sozinha determinadas tarefas domésticas, mesmo que simples.
Aos 5-6 anos manter incentivo na ajuda das tarefas domésticas e ensinar a criança a dar recados.
Elaborado conforme indicações da DGS
Fez-me sentido, neste dia tão especial que é o dia da criança, trazer-vos este artigo onde todos podemos tranquilizar os nossos corações relativamente ao tema «tarefas domésticas». Não vamos usar os nossos filhos como empregadas lá de casa 🙂 vamos sim ajudá-los a crescer, a interiorizar o sentido de responsabilidade. Mas NUNCA SE ESQUEÇAM: em crianças, o mais importante é brincar!
E por aí, estão a aproveitar o dia da criança com os pequenos? 🙂
sem dúvida um artigo p além de muito bonito,muito útil e elucidativo! ❤ parabéns, uma vez mais, pelo excelente trabalho :kissing_heart::blush::four_leaf_clover:
Obrigada querida amiga. Que consigamos que os nossos pequenos aprendam algumas coisinhas gradualmente 🙂