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Como deve ser a linguagem a utilizar com bebés e crianças?

Como deve ser a linguagem a utilizar com bebés e crianças?

Abr 24, 2020

Quando leram este título o que vos veio à cabeça? 🙂

Se pensam que venho aqui falar sobre a linguagem calã ou dizer-vos “atenção que não devemos dizer asneiras à frente do bebé” desenganem-se! 😉 Claro que todos sabemos que a utilização frequente da linguagem calã com bebés e crianças favorece a habituação dos mesmos a esse dicionário. Contudo, também sabemos que na creche, na escola, enfim, na sociedade, a criança vai aprender todo um conjunto de palavras e cabe-nos a nós, pais e educadores, explicar o certo e o errado.

Concordam?

Quando pensei neste tema, o motivo teve que ver com a importância que dou e que damos cá em casa, enquanto casal, à linguagem utilizada pelos adultos com crianças. A utilização frequente de frases como “come a xixa (carne)”, “toma a dedé (chucha)”, “queres wawa (água)?”, desde cedo me fez interrogar da razão pela qual tantos pais tendem a infantilizar e a alterar o nome dos objetos / coisas quando falam com o bebé / criança.

A intenção não é de todo ensinar os pais a educar os seus filhos. Isso é função e cada um de nós 🙂 Mas sim, trazer dicas importantes, respondidas por um profissional da área, que tenho a certeza ajudará cada um de nós a ser ainda melhor.

Vamos estar atentos aos seguintes diálogos:

Criança (apontando para uma banana): Nana

Mãe: Tu queres uma banana?

Criança: Nana

Mãe (enquanto entrega a banana à criança): Uma banana muito saborosa para o Henrique.

(a mãe interpelou a criança, pronunciou corretamente a palavra «banana» e deu-a carinhosamente à criança.

É importante, enquanto pais / educadores:

– Estarmos atentos aos erros de pronunciação de palavras ou à atribuição de nomes diferentes do real aos objetos/coisas pelo bebé/criança, de forma a não atrapalhar a sua aprendizagem, por mais engraçado que isso possa parecer;

Não repetirmos a palavra errada dita pelo bebé, mas sim repetir a palavra de maneira correta, de forma a que o bebé interiorioze o certo no momento;

Não corrigirmos demasiado nem obrigarmos a criança a soletrar a palavra de novo de forma correta, sob pena de lhe conferir vergonha ou irritação cada vez que tenha de pronunciar tal palavra. No fundo pretende-se calma, paciência, sensatez e coerência.

Na fase inicial da infância, há uma imitação do bebé / criança para tudo o que as pessoas de referência dizem ou fazem, sejam pais, educadores, avós, tios, primos ou outros. É nestas pessoas que está o exemplo 🙂

Baseado no documento de apoio a Educadores de Infância, redigido pela Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, 2008

A NOSSA EXPERIÊNCIA…

Desde cedo nos preocupamos, como vos disse em cima, com estas questões. Sempre falámos e falamos diariamente muito com o nosso filho. Todos os momentos com ele são aproveitados a brincar, a ler histórias, a incentivar o seu desenvolvimento. Claro que também brinca sozinho mas sempre perto de nós, pois está agora na fase da “cola” 😉 Precisa sempre de estar a ver alguém enquanto brinca, algo perfeitamente normal para a idade.

Às vezes sinto a minha veia de “palhaça” em ação 😉 porque digo-lhe, constantemente o que vou ou estou a fazer. Tento sempre falar com ele na nossa linguagem, sem infantilizar: “filho a mamã está a passar a ferro as tuas calças.”; “filho vais agora comer a sopa que hoje é de pescada!”; “João Maria, queres ir para a rua brincar?”. Ele ainda não responde, mas às vezes até parece entender 😉 Claro que também uso, quer eu quer o pai, termos que talvez não sejam os mais corretos como “És o bebézinho da mamã/do papá”; “Queres brincar com a Nininha (a nossa cadela)?”. Como não é uma área que domino, ninguém melhor do que um profissional da área para me ajudar, a mim e a vocês. Concordam?

Com isto de estarmos de quarentena / isolamento social, há praticamente dois meses que o nosso filho não tem contacto com mais ninguém. Mas as nossas ideias enquanto pais sempre foram faladas abertamente com a família, relativamente a este e a outros assuntos. Desde cedo que todos sabem que as coisas são para ser chamadas pelo nome 😉 Isso não invalida que algum de nós falhe, claro que falhamos, como em tantas outras coisas. Ninguém é nem pode querer a perfeição 🙂

Fiquei curiosa, neste tema, pela opinião paterna. Acho que é o momento certo para a figura masculina entrar em ação nalguns dos meus artigos 🙂

O RELATO DE UM PAI

Ricardo, 38 anos, pai de duas princesas, agora com 3 e 6 anos respetivamente. Prontificou-se, de imediato, a partilhar conosco a sua experiência como pai. Adepto, em conjunto com a sua esposa, do cuidado na linguagem com as filhas, expõe-nos a sua prática com elas em bebés e no início da infância / surgimento das primeiras palavras:

– “Nunca percebi muito bem a necessidade dos pais e mães usarem constantemente um “inho/a” em todos os nomes enquanto conversam com os seus filhos. Não que nós não o fizessemos de vez em quando, afinal de contas somos papás e não Ogres. Não sabemos se esta nossa prática é a correta, mas foi sempre a que utilizámos:

Não utilizávamos as palavras do “dicionário bebés/português” 😉 como xixa (carne) e popó (carro);

Sempre corrigimos as nossas filhas nas palavras ditas por elas de forma errada. Tentávamos não rir e dizíamos carinhosamente a palavra correta;

– Hoje, com 3 e 6 anos respetivamente, no que diz respeito ao domínio da palavra, têm já um vocabulário e dicção assinalável 🙂

– É importante enfatizar que não há formas perfeitas de educar, assim como não há pais perfeitos. No final há o senso que todos esperamo que seja bom.

Espero ter ajudado.”

Ricardo

AS SUGESTÕES DA EDUCADORA ANA

Ana, Educadora de Infância, licenciada em Santarém, disponibilizou-se para nos dar o seu contributo neste tema tão importante.

Com as crianças, é importante ser utilizada uma linguagem simples e correta:

– os diminutivos “podem aceitar-se” até cerca dos 2 anos, mas alterar o nome das coisas ou infantilizar a linguagem, acaba por confundir a criança;

– utilizar termos como “teté ” para o ovo ou “dede” para a chucha, dificulta o nosso trabalho como profissionais, pois quando as crianças iniciam a creche/infantário acabamos por não corresponder de imediato às suas necessidades;

– quanto mais estimulante for o ambiente linguístico e mais ricas as vivências experienciais, maior será o desenvolvimento cognitivo, linguístico e emocional da criança;

– futuramente, quando integrarem um novo mundo na entrada para o primeiro ciclo, é importante que conheçam e chamem as coisas pelos nomes para que não surjam atrasos linguísticos, porque nem todas as crianças são iguais e cada uma tem o seu ritmo de aprendizagem.

Como sugestões, deixo-vos as seguintes:

Falar o mais corretamente possivel;

Ler histórias e, ao mostrar as imagens dos livros, soletrar o nome das coisas pausadamente;

Descrever as atividades que a criança estiver a fazer;

Realizar jogos estimulantes como ensinar as partes do corpo no banho, aproveitar a altura de vestir para ensinar as peças de roupa, tornar a hora do almoço motivante ensinando os nomes dos alimentos, etc.

Contudo, nao se culpabilizem nem se julguem maus pais se uma ou outra vez não disserem algo bem dito ou, por força do momento e da situação, se utilizarem linguagem calã. Somos seres humanos nao somos perfeitos. A maternidade/paternidade não traz livro de instruções. Estamos e estaremos sempre a aprender.

Felicidades para todos.”

Educadora Ana

E vocês, já tinham pensado neste assunto? O que vos trouxe de útil este artigo? Como tem sido a vossa experiência?

5 Comments

  1. Claudia Amaral

    Concordo e vejo todo o fundamento nas ideias expostas, quer por ti quer pelos 2 entrevistados , no entanto caí e caio nesse “erro”, que p/ mim não o é, desde que assumido c/ conta, peso e medida… E não de modo definitivo… Opa há termos carinhosos, que enqt mães nos saem inevitável/, agora podemos evitar dizê-los por muito tempo e, à medida que crescem, insistirmos no modo correto de os dizer 🙂
    Os diminutivos são, a meu ver, aliados da ternura, deste amor e sentimento indescritível entre pais e filhos… Parecem andar, até, de mãos dadas ❤️

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  2. Tânia Abrigada

    Gostei muito.. e concordo! Às vezes sou um bocadinho do inho e da inha! A papinha, o bonequinho… ‍♀️ Lá está, vezes não são vezes e a maior parte do tempo lembro-me disso e tento contrariar! Acho fundamental falarmos corretamente com os nossos filhos, ler, brincar, dizer sempre o q estamos a fazer de forma a que eles adquiram o máximo de vocabulário! mas no fim, o miminho do “inho”, de vez em quando é capaz de não ser assim terrível ! (Espero eu!)

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    • admin

      Claro que não. Como diz o pai entrevistado somos papás e não Ogres 🙂 O miminho faz parte e o carinho também! Tudo o resto fazemos da melhor forma que podemos e conseguimos 🙂

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  3. Renata

    Muitos parabéns !!!
    Gostei muito deste artigo

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    • admin

      Obrigada minha linda 🙂 por comentares, por seguires.

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